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Penfolds: império australiano

Acreditando que o vinho tinha poderes medicinais, um jovem médico de nome Christopher Rawson deu origem a uma das mais conhecidas empresas produtoras de vinho em todo o mundo. 

Apesar de Portugal ser um país produtor e profundamente ligado ao vinho, há sempre espaço para descobrir sabores de outras latitudes. Exemplo disso é a australiana Penfolds, marca emblemática e clássica que há muito conquistou os consumidores portugueses. Reconhecida internacionalmente pela consistência e elegância dos seus vinhos, a Penfolds está hoje bem representada nas prateleiras de supermercados e garrafeiras de norte a sul do país.

A história da Penfolds remonta ao século XIX. Nascido em Londres em 1811, Christopher Rawson Penfold era o mais novo de onze irmãos, mas desde cedo revelou uma personalidade determinada e uma forte vocação para a medicina. Formou-se em Londres, onde também se casou com Mary Penfold, antes de emigrar para a Austrália em 1844, então vista como uma terra de novas oportunidades. Antes da partida, Christopher levou consigo algumas cepas oriundas do sul de França, que acabaria por plantar ao redor da pequena casa de pedra — Grange Cottage — construída em Magill, nos arredores de Adelaide, no atual estado da Austrália do Sul.

Tal como muitos médicos da época, acreditava nas propriedades medicinais do vinho, especialmente os fortificados ao estilo do Porto e do Sherry, que prescrevia aos seus pacientes como tónico. O sucesso do vinho foi tal que, rapidamente, a procura ultrapassou a produção. Perante a crescente popularidade, a família Penfold decidiu expandir as vinhas e aumentar a produção, lançando as bases do que viria a ser uma das mais emblemáticas casas vinícolas da Austrália.

O fundador da empresa, Christopher Penfold, e sua mulher Mary
Durante os anos 20, a empresa já dominava o mercado: em cada duas garrafas de vinho vendidas na Austrália, uma era da Penfolds.



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Após a morte de Christopher Rawson Penfold, em 1870, coube à sua mulher, Mary Penfold, a gestão do negócio da família. O seu papel revelou-se determinante para o desenvolvimento e sucesso da empresa. Em 1881, Mary geria já uma impressionante produção de mais de 500 mil litros de vinho, um volume notável para a época, representando mais de um terço do vinho armazenado em todo o sul da Austrália. Reformou-se em 1884, mas continuou a acompanhar os destinos da empresa até à sua morte, em 1895. A gestão passou então para a filha, Georgina, e o genro, Thomas Hyland.

No virar do século, a propriedade cresceu de 50 para 120 hectares, consolidando a presença da marca no setor vinícola australiano. Georgina e Thomas tiveram quatro filhos, todos envolvidos no negócio familiar. Dois deles – Frank Astor Hyland (nascido em 1873) e Herbert Leslie Hyland (nascido em 1878) – assumiram funções de liderança, dirigindo a empresa até ao início da Segunda Guerra Mundial. Foi nessa altura que a empresa passou a chamar-se Penfold Hyland, refletindo o papel da família Hyland na gestão.

Durante os anos 1920, a Penfolds já dominava o mercado nacional: em cada duas garrafas de vinho vendidas na Austrália, uma era da marca. Até então especializada em vinhos fortificados e brandy, a empresa começou a apostar nos vinhos de mesa durante a Segunda Guerra Mundial, antecipando uma mudança no gosto dos consumidores.



Uma nova etapa

Na década de 1950, os descendentes de Frank e Herbert Hyland promoveram uma mudança estratégica na filosofia da empresa, centrando-se nos vinhos de mesa. O paladar dos consumidores estava em transformação, e a Penfolds soube adaptar-se.

Max Schubert, que iniciara a sua ligação à casa como moço de recados nos anos 1930, viria a tornar-se a figura mais revolucionária da história da empresa. Após uma viagem a França, Schubert inspirou-se nos grandes vinhos de Bordeaux para criar, em 1951, o primeiro vintage experimental do agora lendário Grange Hermitage, um Shiraz de longa guarda, desenhado para competir com os melhores vinhos do mundo.

Nos anos 1960, Schubert e a sua equipa alargaram significativamente o portefólio da marca, criando referências que se tornaram clássicos australianos, como o Bin 707 Cabernet Sauvignon, Bin 389 Cabernet Shiraz, Bin 28 Kalimna Shiraz, Bin 128 Coonawarra Shiraz, Bin 2 Shiraz Mataro (atualmente conhecido por Shiraz Mourvèdre), e o Koonunga Hill Shiraz Cabernet, lançado em 1976.

Desde então, os sucessores de Schubert têm mantido o padrão de excelência, com muitos dos vinhos da Penfolds a figurarem entre os mais prestigiados e colecionáveis do mundo, símbolo de uma tradição que soube unir herança, inovação e visão internacional.

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Em 1951, baseado no que aprendera em França, Max Schubert produziu o primeiro vintage experimental, o Grange Hermitage.
Já nos anos 60, Schubert e a sua equipa foram os responsáveis pelo desenvolvimento dos vinhos Bin, a gama clássica da empresa.
Magill Estate



Uma marca histórica com presença global

Em 1962, a Penfolds passou a ser uma empresa pública, mantendo a sua operação centralizada na produção de vinhos e na continuidade de um percurso iniciado no século XIX. A gestão da marca acompanhou as mudanças do setor, adaptando-se às novas exigências do mercado e às preferências dos consumidores.

A marca australiana é hoje uma das mais conhecidas do panorama internacional, com uma produção diversificada e presença nos principais mercados. Além das vinhas originais situadas em Magill, nos arredores de Adelaide, a Penfolds expandiu-se para outras zonas vinícolas da Austrália, como Barossa Valley, McLaren Vale, Clare Valley e Coonawarra, onde vinifica diferentes estilos e castas.

A propriedade de Magill mantém um papel simbólico e operacional relevante. O espaço está aberto a visitas e integra a casa original do fundador, caves antigas e vinhas, além do Magill Estate Restaurant, um espaço gastronómico de referência onde são servidos menus de degustação pensados para acompanhar os vinhos da marca.

Nos últimos anos, a Penfolds alargou a sua actuação a outras geografias. Em 2021, apresentou ao mercado os primeiros vinhos produzidos fora da Austrália, incluindo um Cabernet Sauvignon da Califórnia e um Shiraz Cabernet vinificado na China. Estes projetos são conduzidos pela mesma equipa enológica que trabalha os vinhos australianos, com o objetivo de explorar novas expressões de terroir sob a mesma abordagem técnica.

A marca também tem apostado em séries limitadas e projetos especiais, como o Penfolds Ampoule, um vinho apresentado em embalagem artesanal de vidro, dirigido a colecionadores, e na integração de tecnologias de rastreabilidade que permitem verificar a autenticidade das garrafas.

Com uma história iniciada em 1844, a Penfolds mantém presença regular nas prateleiras de supermercados, garrafeiras especializadas e leilões internacionais. Em Portugal, os seus vinhos estão disponíveis em vários pontos de venda, incluindo canais online.

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