Crónica

Evento inovador em Sines dedicado ao enoturismo e vinho subaquáticos

Uma tendência forma-se, muitas vezes, sem que se perceba exatamente como. É como se a moda surgisse do nada, empurrada por uma curiosidade colectiva difícil de mapear. E é precisamente isso que está a acontecer com os vinhos subaquáticos, uma prática que já começou há mais de uma década fora de portas, com experiências pioneiras em países como França, Espanha, Itália e até mesmo nos EUA, onde produtores começaram a afundar garrafas no mar para observar como o vinho evoluía longe da luz, das variações térmicas extremas e com a pressão constante da profundidade.

Mas porquê afundar vinho no mar? Será apenas um golpe de marketing ou há, de facto, razões enológicas e científicas por trás deste método? Pouco ou nada se tem escrito sobre isso em Portugal, ou lá fora, apesar da prática já cá ter chegado há alguns anos e estar, claramente, a ganhar força.

É por isso que, nos dias 20 e 21 de junho de 2025, terá lugar em Sines e Porto Côvo o primeiro evento nacional inteiramente dedicado ao Enoturismo Subaquático, onde se procurará não só dar respostas, mas também levantar novas questões. Organizado pelo Turismo do Alentejo e pela Câmara Municipal de Sines, com produção da APENO (Associação Portuguesa de Enoturismo), esta iniciativa pioneira pretende lançar luz sobre uma nova fronteira da enologia e do (eno)turismo vínico, com uma programação intensa e invulgar.

Durante dois dias, jornalistas nacionais e internacionais vão mergulhar – literalmente – para pescar garrafas de vinho que repousaram no fundo do mar. Um momento simbólico, mas também revelador já que estes vinhos não foram esquecidos no oceano, foram deliberadamente envelhecidos nas suas profundezas.

A par dos mergulhos, a prova comentada com o sommelier Rodolfo Tristão (e com quem vos escreve), permitirá comparar vinhos envelhecidos no mar com os seus pares guardados em cave, e perceber se a diferença está apenas na ideia romântica do fundo do mar ou se o perfil sensorial muda efetivamente. Será uma oportunidade única para produtores, académicos, profissionais e curiosos participarem num momento inédito de descoberta.

No dia seguinte, a palestra ‘Vinho Submerso: Evidência Científica ou Curiosidade?’ contará com investigadores, produtores e especialistas nacionais e estrangeiros, debatendo o tema com profundidade e espírito crítico. A ciência terá aqui a palavra, e o público também, com espaço aberto a perguntas e partilha de ideias.

A fechar, um jantar vínico de autor no restaurante Alma Nómada, em Porto Côvo, assinado pelo chef Marco Nascimento e harmonizado com vinhos subaquáticos por Rodolfo Tristão, trará o mar até ao prato, e ao copo, numa noite memorável que funde criatividade, sabor e território.

Este será o primeiro evento do género em Portugal. E se a tendência veio de fora, não há dúvida de que o Alentejo está agora a assumir a dianteira, demonstrando que inovação, sustentabilidade e turismo podem coexistir de forma harmoniosa e inspiradora.

O mar, afinal, continua a guardar segredos… Cabe-nos mergulhar para os descobrir!