Maria Fernanda: a companhia perfeita para o jantar

Chegou com nome próprio e perfil elegante, mas não é uma senhora. É um vinho! E dos que dão conversa, mesmo sem dizer uma palavra. Maria Fernanda (2021) é a mais recente criação da adega de Rubens Menin, um tinto proveniente de vinhas velhas de Gouvinhas, no Douro, baptizado com este nome em homenagem à filha do empresário. É um bonito gesto familiar aliado a uma aposta séria num vinho de topo feito a partir de castas e parcelas seleccionadas, pensado para expressar o melhor do terroir duriense.
A Quinta da Costa de Cima, adquirida em 2018 juntamente com a Quinta do Sol, foi uma das primeiras propriedades do projeto Menin no Douro. Mais tarde, juntou-se a Quinta do Caleiro, completando o trio de quintas que hoje compõem o núcleo da Menin Douro Estates. Considerada a mais importante e histórica das propriedades, a Quinta da Costa de Cima possui 28,5 hectares, dos quais 11 hectares são de vinhas com mais de 130 anos, representando, segundo o produtor, a maior área contígua de vinhas velhas do Douro. É este o berço de mais um vinho de topo da Menin com nome pessoal. Depois de ‘Dona Beatriz’ (vinho que homenageia a sua mulher) é a vez de ‘Maria Fernanda’, a nova referência, dedicada à filha do empresário, integrada numa coleção que cruza laços familiares com a enologia exigente dos enólogos Tiago Alves de Sousa e Manuel Manuel Saldanha.
Produzido a partir de vinhas velhas com mais de 130 anos localizadas em Gouvinhas, freguesia de Sabrosa, no Cima Corgo, o ‘Maria Fernanda’ resulta de uma minuciosa selecção de parcelas específicas, escolhidas pela sua expressividade e qualidade. O lote final inclui 54 castas identificadas, mas assenta sobretudo em três variedades: Touriga Nacional, Tinta Barroca e Tinta Amarela.
A Touriga Nacional tem um papel dominante, segundo Tiago Alves de Sousa, «pela sua intensidade aromática e exuberância, semelhante ao caráter enérgico a personalidade que inspira o nome do rótulo». Por seu turno, a Tinta Barroca e a Tinta Amarela completam com complexidade e equilíbrio, num vinho pensado para ter longevidade. «A ideia foi criar um vinho elegante, mas com presença e profundidade, assumindo-se como uma referência de topo no portefólio da casa. Posiciona-se acima do Grande Reserva e segue a mesma lógica do ‘Dona Beatriz’, que tem um lugar exclusivo e limitado na produção anual», explica ainda o enólogo. Manuel Saldanha completa a ideia do colega dizendo que o ‘Maria Fernanda’ resulta de um estudo aprofundado do terroir local, focado nas parcelas existentes e no seu potencial. «O vinho surge dessa leitura atenta do território e da escolha de criar uma assinatura pessoal, sustentada por uma abordagem técnica rigorosa», afirma.

A prova confirmou o que os enólogos prometeram: um vinho que interpretou bem o terroir do douro, com elegância, marcado pela frescura, mineralidade e complexidade. A fruta surge contida, bem integrada, com elegantes notas florais, mas é a componente mineral — expressão direta das vinhas velhas — que domina com distinção. O estágio em barricas, criteriosamente escolhido, acrescenta estrutura e textura sem ofuscar o carácter do terroir. Na boca, impressiona pela profundidade, frescura e persistência, com taninos finos e um toque salino que prolonga o final.
Um portfolio variado
No dia do lançamento do Maria Fernanda, houve ainda a oportunidade de provar outros vinhos. Como o Menin Reserva Branco 2023, feito maioritariamente a partir da casta Viosinho, proveniente de parcelas situadas na Quinta do Sol, entre os 480 e os 500 metros de altitude. Neste vinho, à Viosinho juntaram-se outras castas como a Gouveio, Rabigato e Arinto, numa conjunto que privilegiou a frescura, mineralidade e estrutura. A colheita precoce, exigida pela natureza da casta principal, obrigou a uma vindima antecipada «sem férias em Agosto», como referiu a equipa de enólogos, mas o sacrifício valeu a pena pois garantiu um perfil muito elegante, floral, marcado por notas de flor branca, ervas frescas e especiarias, como a pimenta branca no final de boca. A madeira está presente, mas é discreta: cerca de 40% do vinho estagiou seis meses em barrica nova, usada apenas como ferramenta para sustentar a fruta e realçar a acidez, sem sobrepor-se ao carácter da uva.
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Já o Menin Arinto Grande Reserva 2022 afirmou-se em prova de forma muito distinta (é outra das grandes referências da casa), fruto de uma vinha marcada desde cedo por uma identidade muito própria e uma expressão aromática exuberante. Fugindo a um perfil mais austero da Arinto, este vinho surpreende, contudo, pela sua complexidade, frescura e textura cremosa. O estágio em 100% barricas novas, cuidadosamente selecionadas – de tosta suave, pensadas para brancos – confere-lhe uma dimensão adicional, com notas subtis de baunilha e uma estrutura refinada. A madeira está presente, mas perfeitamente integrada, contribuindo para um equilíbrio notável entre acidez vibrante, untuosidade e profundidade. Um vinho branco com alma de guarda, que promete evoluir com elegância e revelar novas camadas com o tempo.

O último dos vinhos de mesa provado – o Menin Touriga Nacional 2021 – revelou uma vez mais a identidade da vinha e do local. E evidenciou-se a busca da qualidade através da selecção das melhores parcelas de Touriga Nacional, com características diferenciadas, algo que permitiu mostrar o potencial genuíno da casta. Estagiado em barricas de carvalho francês apresentou um perfil aromático complexo, com uma mistura de notas de fruta e flor e uma leve componente balsâmica e resinosa. No paladar destacou-se a mineralidade e uma nota de especiaria no final de boca, aliada às de madeira, mas mantendo sempre o equilíbrio e a elegância.
Por último, veio ainda para a mesa um vinho do Porto branco 10 anos. A conversa com os enólogos revelou a valorização que esta categoria tem vindo a adquirir ao longo dos anos, com um foco crescente na sua originalidade e complexidade. Ou seja, a categoria de brancos é ainda rara no vinho do Porto, poucos produtores a fazem mas agora cada vez mais. E a média dos vinhos do 10 anos é sempre maior na Menin, do que a indicação de idade, ou seja, o vinho parece muito mais velho). A discussão sobre os lotes mais velhos destacou assim a importância das vinhas e do trabalho na adega para alcançar vinhos de qualidade superior, que têm conquistado cada vez mais o consumidor.
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