Gostar de vinho e a sorte de viver em Portugal
Num país onde a quantidade imperava sobre a qualidade, a entrada de Portugal na Comunidade Europeia em 1986 veio provocar uma verdadeira revolução na vitivinicultura nacional. A reviravolta foi grande: aproveitaram-se fundos para replantar vinhas, surgiram novos produtores e marcas de vinho, novas técnicas de viticultura foram introduzidas, as adegas modernizaram-se e os enólogos trouxeram novos e aprofundados conhecimentos de outros países. O resultado destes investimentos tinha obviamente de passar por um aumento de qualidade, hoje bem visível e comprovada pelos apreciadores de vinho, que bem podem esfregar as mãos de contentes pelo facto de viverem em Portugal onde o vinho é bom e barato.
A maioria dos portugueses reclama quando o preço dos vinhos ultrapassa a fasquia dos 5€ (às vezes até menos). E, se falarmos de um topo de gama, ainda pior. Reclama sem perceber a sorte que tem em viver num país onde ainda se pode beber (e comer) bem e barato. Não conheço nenhum outro país onde um vinho de entrada que custe entre os 3€ e 5€, por exemplo, seja tão bom como em Portugal. Ou onde um vinho de topo possa custar entre 50€ e 100€, por exemplo, quando noutros países a mesma gama de vinho custa duas ou três vezes mais. Isto sem falar nos grandes vinhos franceses, que custam uma verdadeira fortuna (por comparação, a colheita mais recente do Barca Velha, o nosso vinho mais caro, ronda os 400€ a garrafa, e a de Château Petrus, o vinho mais caro de Bordéus, França, ronda os 3000€). E já nem falo dos leilões de raridades. Temos sorte, então. Em Portugal podemos todos beber vinho. Pode não ser todos os dias, mas sem dúvida que o vinho é mil vezes mais acessível a todos do que noutros países.
Quero com isto dizer que o vinho português não é caro; os portugueses é que não têm dinheiro. É aí que reside o problema! Se em conversa dissermos o valor de alguns dos nossos bons vinhos a um inglês ou a um americano, por exemplo, eles começam-se a rir. Pior que ficarem a rir, é Portugal ficar com a sua imagem prejudicada por sermos tão baratos. O ideal? Era continuarmos cá dentro a ter os nossos vinhos a preços acessíveis, mas vendermos lá fora muito mais caro. Porque são vinhos bons demais para serem vendidos a um preço tão baixo, em comparação com outros países que oferecem menor qualidade por um preço sempre mais alto. Haverá solução para isto? Enquanto os produtores portugueses não acreditarem na qualidade dos seus vinhos, os venderem a baixo preço e não adoptarem uma postura mais activa, confiante e agressiva no mercado internacional, o caso está muito mal parado. E não é só com feirinhas que vão lá. Há que fazer contactos directos com distribuidores, restaurantes, garrafeiras e outras superfícies comerciais, pesquisar e inventar outras formas de promover o produto. Não estar parado à espera que os clientes lhes caiam no colo. Haja profissionalismo, capacidade de trabalho e perseverança para chegarmos a bom porto.

