Lusovini reinventa na vinha o futuro dos vinhos

Na Vinha da Fidalga, o que começou por ser uma resposta à escassez de mão‑de‑obra, transformou‑se numa redefinição da vinha. Menos custos, mais produtividade, melhor qualidade e uma reaproximação às práticas ancestrais.
Num sector sempre em evolução, a Vinha da Fidalga, em Carregal do Sal, no Dão, destaca‑se por reinventar a condução das videiras a partir do conhecimento ancestral. Iniciada por Casimiro Gomes, um dos sócios da empresa, e apoiada pela CEO e também sócia da Lusovini, Sónia Martins (na foto de entrada) e pela sua equipa, esta técnica recupera práticas esquecidas com resultados surpreendentes em termos de sustentabilidade, produtividade e qualidade. «Quando pensámos neste novo sistema de condução para a vinha, o objetivo era apenas baixar custos através da mecanização da poda seca», começa por explicar Casimiro. «Mas, com o tempo e estudo, percebemos que esta técnica reduz o risco de doenças fúngicas, como o míldio, e até da geada. Depois, veio o mais inesperado; a produção aumentou e, ao contrário do que se costuma verificar, a qualidade também melhorou».
O sistema (um braço principal elevado entre 1,30 m e 1,40 m, que gera uma condução descendente e abraça o arame em 360°, num modelo designado sprawl) foi desenvolvido respeitando a fisiologia natural da planta. «O que fizemos foi devolver à planta o seu comportamento selvagem. A Touriga Nacional, por exemplo, é uma casta retumbante, difícil de conduzir em monoplano ascendente. Mas, se olharmos com atenção, os nossos antepassados já conduziam a vinha de cima para baixo».


Esta técnica ficou registada num azulejo antigo encontrado na propriedade: «A nossa formação académica faz-nos muitas vezes esquecer o conhecimento ancestral. Esta inovação é, na verdade, uma redescoberta», afirma Casimiro. O sistema facilita a mecanização da poda de inverno, uma das principais tarefas de mão‑de‑obra na vinha, permitindo reduções de 54% a 70% no esforço humano. Mas os ganhos vão mais além disso, «a circulação de ar entre as vinhas melhora, reduzindo escaldão e doenças; o risco de geada cai, pois a produção fica afastada do solo frio; e a sanidade da planta é reforçada», remata.
Contudo, nem todas as castas tiram proveito deste método. «No caso de castas erectas, como a Tinta Roriz, não faz sentido aplicar este sistema. A fisiologia da planta deve ditar a condução, não o contrário», refere ainda Casimiro. Assim, a escolha da casta torna‑se crucial para determinar a eficácia da técnica.
A Lusovini continua por isso a estudar o comportamento das castas e, particularmente, a sua combinação em lote: «Algumas castas podem não ter força lançadas como monocasta, mas podem revelar-se extraordinárias em blend. Esse é o caminho que estamos a estudar e a seguir».
O tempo e a observação permitiram a evolução deste método. «Costumo dizer que agora, com mais idade, tenho menos pressa. Antigamente andava sempre a correr. Hoje, leio muito melhor a natureza». Essa mudança de ritmo permitiu-lhe olhar com outros olhos para castas como a Baga, na Bairrada, recordando as práticas ancestrais. «O meu avô também usava condução descendente. E fazia sentido. O sistema respeita a planta e ainda permite mecanização. Tudo isso só foi possível graças a um trabalho conjunto, onde a Sónia teve e tem um papel muito importante». Do ponto de vista enológico, o método traduz-se em uvas com menor teor de açúcar e maior acidez, características valorizadas num ambiente de aquecimento global, onde o equilíbrio dos vinhos está ameaçado.
Sobre o futuro da Lusovini, Casimiro mostra‑se tranquilo: «A Sónia continuará a liderar o projeto com uma linha condutora que me tranquiliza. Ela é rigorosa, profissional, não inventa histórias nem tendências, é muito focada. E isso é o mais importante para termos sucesso», remata.

