Artigo

Um branco das alturas

Durante a minha viagem à Argentina, um dos produtores que não pude deixar de visitar foi a Bodega Bressia, situada em Agrelo, Luján de Cuyo, um das mais importantes sub-regiões de Mendoza. A adega pertence a Walter Bressia, enólogo que já passou por algumas das casas mais emblemáticas do país, incluindo a Nieto Senetiner, onde foi director técnico e ajudou a projectar a marca no mercado internacional entre os anos 90 e início de 2000. Mas, como todo o bom enólogo aventureiro, Walter decidiu seguir o seu próprio caminho e, em 2001, fundou a Bressia Casa de Vinos, um projecto familiar de vinhos de pequena escala, com identidade própria e um toque artesanal.

Conduzida hoje por Walter e pelos seus filhos, a Bressia aposta em vinhos de autor, foca-se na qualidade e na expressão do terroir. O portfólio inclui rótulos conhecidos como Conjuro, Profundo, Última Hoja e Saro, além de espumantes e grappa. No entanto, nenhum destes foi o que pedi para provar quando cheguei à adega, porque me despertou a atenção um outro que já vou falar! 

Walter e a sua mulher, Marita, são grandes anfitriões, receberam-me com enorme simpatia. Aliás, não foram apenas eles. Enquanto nos sentávamos à mesa para provar vinhos e petiscos, começaram a chegar os filhos, genros, noras e netos! Num instante, parecia uma cena portuguesa, com toda a família reunida, a partilhar histórias, boa comida e, claro, bom vinho. Um momento memorável, que só terminou porque tive de me ir embora pois tinha um jantar marcado no restaurante de Alejandro Vigil, outro grande enólogo argentino.

Junto ao bar destinado a servir os visitantes, reparei num branco que se destacava na prateleira. Uma garrafa escura, pesada, com rótulo elegante e indicação de edição limitada a 3.967 exemplares. Era o Walter Bressia Grand Blanc 2019, um branco de montanha criado para comemorar 20 anos de enologia, produzido na Finca Marita Teresa, propriedade também baptizada em homenagem à mulher do enólogo.

Segundo Walter, que uma referência na viticultura de autor em Mendoza, este Grand Blanc 2019 representa uma nova etapa na história da Bressia Casa de Vinos, traduzida na maturidade do projecto ao criar brancos como este, de classe mundial, ainda pouco comuns na Argentina. Inspirado nos brancos de Chablis (Borgonha), mas com identidade argentina, o vinho é um misto de frescura, estrutura e complexidade. No copo, revelou um aroma muito elegante, com mineralidade, notas de flores brancas e fruta de caroço, sustentado por uma acidez vibrante e textura cremosa na boca, com um final longo e harmonioso. Um branco que promete grande capacidade de envelhecimento. Para acrescentar à nota de prova, Walter não se descose, preferindo manter o mistério quantos às castas utilizadas, incentivando assim os apreciadores a focarem-se mais na experiência sensorial e no carácter único do vinho. Um vinho que traduz a melhor filosofia desta adega, que passa pela sua própria identidade, pelo seu grande equilíbrio e pela emoção que provoca.

Quem visita este lugar e se cruza com esta família sai de alma cheia. Entre abraços genuínos, vinhos de assinatura e experiências sensoriais marcantes, há sempre boas razões para regressar.