Artigo

Vinhos que marcam com elegância

A família Symington, a maior proprietária de vinhas do Douro e um dos maiores produtores de vinho da região apresentou recentemente a nova colheita da Quinta do Vesúvio (2022) e um Cellar Release de 2015. E assinalou, também, os 200 anos da propriedade com o lançamento de um baú comemorativo de vinhos.

Todos os anos, a Symington anuncia novidades sobre a Quinta do Vesúvio, uma das suas mais emblemáticas propriedades do Douro, e este ano não foi excepção, com o lançamento da nova colheita (2022) e de um Cellar Release (2015) que esteve a envelhecer dez anos na garrafeira. Mas este ano foi um pouco diferente. Tradicionalmente, a Symington apresenta as novidades do Vesúvio entre Outubro e Novembro – uma época apetecível comercialmente, já que é antes do Natal – mas este ano decorreu em Março, uma decisão tomada com base na certeza de que a colheita de 2022 iria beneficiar com um pouco mais de tempo antes de ser apresentada ao público. A estratégia foi acertada, pois apesar da sua exuberância e profundidade, o vinho revelou-se igualmente elegante e com as suas características mais ‘bem casadas’.

Além disso, pela primeira vez na história da propriedade, foi apresentado um ‘Cellar Release’ de 2015, uma edição limitada que permaneceu dez anos em garrafa antes de ser disponibilizado no mercado. Agora, as 2500 garrafas disponíveis podem ser encontradas em locais exclusivos como garrafeiras ou restaurantes de topo. Na prova, nota-se que o tempo passou pelo vinho mas o seu perfil continua cheio de vida e frescura, demonstrando que a decisão de o manter em estágio prolongado foi acertada. «Embora o lançamento simultâneo da nova colheita de 2022 e do vinho de 2015 tenha sido uma aposta ousada, cremos que foi a decisão mais acertada. Há que saber esperar pelos vinhos, pois se forem lançados na altura certa conseguem surpreender ainda mais pelo seu bom estado de conservação», revela Rupert Symington, que recentemente assumiu a presidência da Symington Family Estates. Uma opinião partilhada, pelo enólogo Charles Symington, que enalteceu ainda a excelente «capacidade de envelhecimento destes vinhos» e a própria região do Douro. 

Dos dois vinhos destacou-se o Cellar Release 2015. A Touriga Nacional costuma ser a casta predominante (54%) dos vinhos Quinta do Vesúvio. Estas uvas têm origem numas vinhas situadas a cerca de 450 metros de altitude, com exposição poente, denominadas Quinta Nova. Esta parcela do Vesúvio foi adquirida pela grande empresária do Douro, Dona Antónia Adelaide Ferreira, em meados do século XIX, tendo a propriedade sido adquirida pela Symington já no final do século XX. Na sua época, Dona Antónia mal poderia imaginar que estas vinhas com cota elevada se revelariam tão valiosas para os tintos da propriedade. A Touriga Franca, outra casta utilizada (42%), é proveniente de outras parcelas de exposição poente, do vale da Teja, e também de alguns patamares da zona dos Castelos. Uma pequena quantidade de Tinta Amarela (4%), incluída no lote final, também tem origem nas vinhas da Quinta Nova. «O início do ano vitícola em Novembro foi marcado por muita chuva, o que acabou por ser muito importante, já que depois não choveu quase nada no inverno, na primavera e no verão. Mas, a chuva que veio na altura certa, em Maio, foi fundamental. Isso ajudou as videiras a prepararem-se para os meses quentes de Junho e Julho. Agosto foi mais ameno, com noites frescas, o que criou as condições ideais para as uvas amadurecerem bem, ajudando a manter a acidez natural delas», explicou Charles Symington, durante a prova. «Quando começou a vindima, as uvas estavam em excelente estado, com o equilíbrio perfeito entre açúcar e acidez. E, no meio de setembro, a chuva que caiu foi crucial para garantir que a Touriga Nacional e a Touriga Franca chegassem à maturação plena», complementa ainda. Quem está habituado a ir aos eventos da Symington sabe que pode sempre contar com uma verdadeira descrição meteorológica, já que são mestres em informar sobre todas as condições climatéricas de cada ano de forma a que possamos compreender melhor cada colheita ao detalhe, dando grande ênfase a esta questão, como se estivéssemos a ouvir um programa de meteorologia, só que com vinho à mistura – o que, diga-se de passagem, é muito mais agradável!.

Rupert Symington (em cima) Charles Symington (em baixo) apresentaram as novidades do Vesúvio.



Após terem sido colhidas na vinha, com triagem também manual, as uvas foram prensadas suavemente e seguiram para as cubas de fermentação de aço-inox. As fermentações foram seguidas de perto, sendo as temperaturas e os movimentos de maceração ajustados, de modo a obter todo o potencial das uvas. Estagiou depois em barricas de carvalho de 225 e 400 litros (75% madeira nova) durante 18 meses. O resultado foi um vinho estruturado, com uma ligação harmoniosa dos aromas primários aos terciários.

De aroma a frutos pretos silvestres e notas balsâmicas, tem uma boca estruturada mas elegante, taninos assertivos sem agredir, volume e madeira muito bem casada. Um vinho já com idade mas bem preservado, ainda com juventude, muito fresco e elegante, que deu muito prazer beber.

Além do Cellar Release (em cima), também se destacou na apresentação o baú comemorativo do bicentenário (foto de baixo)



A apresentação do baú comemorativo do bicentenário da Quinta do Vesúvio foi também alvo de destaque, e trouxe consigo uma colecção exclusiva de vinhos. Tem quatro vinhos distintos, sendo dois Portos Vintage (2011 e 2020) e dois vinhos DOC (2012 e 2017). E cada garrafa tem um rótulo exclusivo, não disponível no mercado comum, e um design de edição limitada, inspirado nos rótulos do Vesúvio do século XIX, e criado especificamente para estes vinhos (restricto ao número de garrafas produzidas para os 200 baús). Além dos vinhos, esta edição de coleccionador inclui também dois livros e um portfólio de imagens criados exclusivamente para o efeito, como o Livro da Quinta, um guia completo sobre a riqueza histórica da Quinta do Vesúvio; o Livro de Provas, que dá a conhecer detalhadamente a arte de fazer vinho em cada colheita; e o Fólio de Imagens, com uma coleção única de ilustrações, mapas do século XIX e segredos da história do Vesúvio. Uma verdadeira peça de coleccionador que une a história, a arte e a enologia.