Louis Latour, produtor emblemático

É um dos mais reconhecidos produtores de vinho na Borgonha, o maior proprietário de vinhas Grand Cru na Côte D’Or, e um dos mais antigos a operar no mercado. É, também, um dos raros produtores a ter a sua própria tanoaria.
Foi em 1731 que a família Louis Latour, encabeçada por Denis Latour (1675 – 1753), comprou vinhas na Côte de Beaune, na Borgonha. Nessa altura, já a arte da tanoaria era uma das ocupações da família, que acabou por alargar os seus negócios no mundo dos vinhos. Em 1768, já com Jean Latour, filho de Denis, na gestão dos negócios, a família mudou-se para a comuna de Aloxe-Corton. Nesta comuna, além de montar a sua própria tanoaria, os Latour investiram também na compra de diversas parcelas de terra.
Apesar de turbulenta, a Revolução Francesa acabou por beneficiar os negócios familiares, já que permitiu o acesso fácil a terras de cultivo, a possibilidade de plantar mais videiras, assim como o lançamento de novas empresas. É assim que nasce formalmente, em 1797, a Maison Louis Latour, uma empresa familiar que ao longo dos séculos construiu uma sólida reputação, baseada no equilíbrio entre tradição e inovação, reconhecida internacionalmente pela qualidade dos seus brancos e tintos.
As uvas da empresa são ainda hoje vinificadas na histórica adega, situada junto ao Château Corton Grancey, comprada pela família em 1891. Esta adega, mais antiga que o château, cuja construção foi iniciada em 1832, é uma das mais antigas de França a funcionar, e também a mais antiga a adoptar o sistema de gravidade. Situada numa suave colina e edificada em cinco níveis, utiliza a gravidade para movimentar as uvas, mostos e vinhos; protegendo-os da oxidação e tornando o trabalho muito mais prático.




Desenvolvimento de uma empresa
Em 1860, a Louis Latour já somava 10 hectares de vinha, o que deu origem à produção de mais vinho, permitindo assim a definição de uma estratégia de internacionalização mais alargada. Além de Inglaterra, para onde já exportava, a lista alargou a países como os Estados Unidos, Indonésia, Argentina, Roménia e Bélgica. Ao longo das décadas, juntaram-se muitos outros. Até o final do século XIX, todos os vinhos eram vendidos em barricas e, só depois em garrafas rotuladas. Os vinhos começam então a tornar-se cada vez mais conhecidos e apreciados por gente endinheirada, reis e governantes.
Em 1867, Louis Latour, representante da sexta geração da família, torna-se negociante de vinhos em Beaune e estabelece o seu escritório na Rue des Tonneliers, onde ainda hoje permanece. A partir de então, a empresa prospera ainda mais. Louis Latour revela-se um excelente empresário, sempre atento às inovações, à adaptação e desenvolvimento de novas técnicas de vinificação e vendas. Foi nesta altura que a quase totalidade dos vinhos passou a ser vendido só em garrafas, algo que contribuía para uma melhor preservação da sua frescura e elegância.
Mas a praga da Filoxera, que surge no final do século em França e começa a destruir as vinhas, trará tempos menos prósperos. Os danos são terríveis. As vinhas morrem, deixa de se produzir vinho e quem vive do negócio ressente-se. No meio desta desgraça, a Maison Latour foi quem na época mais lutou contra as adversidades, apoiando investigações contra a doença sem nunca desistir de ir replantando vinhas. Aliás, será mais tarde Louis Noël Latour, um jovem engenheiro agrícola pertencente à família quem, juntamente com outros estudiosos, encontra a solução do porta enxerto americano resistente à doença.
Mas antes disso, muitas plantas morreram. E baixar os braços não era uma opção para os Latour. Além da replantação das vinhas, a família investiu ainda na compra de novas parcelas em locais reconhecidamente estratégicos e de grande qualidade, já a pensar num futuro livre de pragas. Outros dos seus investimentos foi em propriedades de floresta, de forma a garantir o fornecimento suficiente de madeira para a sua tanoaria. Além da replantação das vinhas, a família investiu ainda na compra de novas parcelas em locais reconhecidamente estratégicos e de grande qualidade.



Época difícil para a empresa foi o período entre as duas grandes guerras (1918‑1945). O Château Corton‑Grancey, em Aloxe‑Courton, foi, inclusivamente, transformado em hospital de campo durante a Primeira Guerra Mundial. Durante a Segunda Guerra, foi ainda pior. A instabilidade e o medo reinavam. A comida escasseava, o povo tinha fome. Ao invadirem a França, os tropas nazis abrigavam-se nas adegas. E não tinham dó em saquear tudo o que viam pela frente, incluindo vinhos, um dos produtos mais destacados e apreciados. Em defesa do seu património vitivinícola, muitos dos produtores escondiam os seus vinhos nas suas adegas atrás de paredes falsas, e outros nos locais mais recônditos, incluindo no fundo de lagos. A produção dos vinhos praticamente parou nos momentos de guerra.
Quando a guerra terminou com a vitória dos Aliados sobre as tropas alemãs em 1945, a empresa preparou-se para reagir em tempos de paz. A pouco e pouco foram reconquistando o mercado. Novos clientes foram surgindo, os vinhos começaram a marcar presença em hotéis de luxo e nos melhores restaurantes, como o Hotel de Paris em Monte Carlo, o Beau‑Rivage em Genebra, ou o Ritz em Paris. Rapidamente, os vinhos conquistaram o reconhecimento internacional, evidenciando-se como uma marca forte e de prestígio.
Décadas passadas, de forma a acompanhar a mudança dos tempos, a Louis Latour procurou modernizar-se e acompanhar o desenvolvimento tecnológico do sector, investindo no final dos anos 70 na construção de modernas instalações nos arredores de Beaune, em Clos Chameroy. Este local de produção, engarrafamento, armazém e expedição de vinhos conta também com a tanoaria que ainda hoje é uma parte importante dos negócios da empresa. Anualmente, a tanoaria produz cerca de 3000 barricas (só os tonéis são comprados fora) que serão utilizadas apenas durante 5 anos.
As vinhas e o respeito pelo ambiente
A agricultura sustentável tenta utilizar as condições existentes, adaptando as culturas ao clima e ao solo, e beneficiando de sinergias entre os seres vivos que compõem o sistema agrícola. Deste modo, reduzem-se drasticamente fertilizantes e pesticidas, fazendo com que a natureza seja minimamente afectada. A partir de 1998, a Maison Latour tornou-se parte do circuito dos produtores praticantes de viticultura sustentável, uma postura ainda mais implementada desde 1999, ano em que Louis Fabrice Latour – representante da décima primeira geração da família – assumiu os comandos da mesma.
Louis Fabrice deixou a sua marca. Dois grandes investimentos significativos na sua gestão foi a renovação, entre 2011 e 2012, da adega Corton Grancey; e também a do Château Corton Grancey, entre 2013 e 2014, ambos em Aloxe-Corton.
Relativamente à área do ambiente / sustentabilidade, a Maison Latour foi a primeira casa da Borgonha, em 2003, a obter a certificação ISO 14001 para gestão ambiental e, em março de 2020, conquistou o selo ‘Haute Valeur Environnementale’ nível 3, o grau máximo da certificação francesa de viticultura sustentável. Em Abril de 2024, a família assinou um mecenato de 150.000 euros com a Associação ‘Climats de Bourgogne – Património Mundial’, reforçando o compromisso de proteger e valorizar a colina de Corton e seus ecossistemas.
Louis Fabrice Latour faleceu a 5 de setembro de 2022; e o seu irmão Florent Latour assumiu a presidência da Maison em Dezembro do mesmo ano, garantindo a continuidade da 11.ª geração e preparando a entrada da 12.ª geração.

Actualmente, a empresa tem 48 hectares de vinhas na Borgonha (em Chablis, nas Côtes Chalonnaise e Mâconnais, e em Beaujolais). Chablis é a denominação de origem situada mais a norte da Borgonha, cobrindo cerca de 5000 hectares que se estendem ao longo das encostas que ladeiam um trecho de 20 quilómetros do rio Serein. Esta região distingue-se pelo seu clima fresco e solo calcário que conferem à casta Chardonnay a sua famosa mineralidade e acidez. Já na Côtes Chalonnaise e Mâconnais, que se estende a sul da Côte de Beaune, as videiras plantadas há séculos pelos monges de Cluny beneficiam de solos calcários e uma excelente exposição solar. A região é muito conhecida pelos seus brancos frescos e minerais, mas também produz tintos poderosos e estruturados. Por último, as vinhas de Beaujolais estão implantadas em solos com nuances de solo granítico, onde a Gamay é a casta de eleição. Vinhos frutados, utilizados maioritariamente para consumo imediato.
Além das vinhas próprias, a Maison Latour ainda compra uvas a viticultores da região. Algo que o responsável de viticultura Christophe Deola e o director de enologia Charles Thomas supervisionam com atenção.inda compra uvas a viticultores da região. Algo que o responsável de viticultura Christophe Deola e o director de enologia Charles Thomas supervisionam com atenção.
Inovação fora de portas
Além das vinhas já mencionadas, a Louis Latour foi uma das pioneiras na produção de vinhos de qualidade a partir das uvas Chardonnay e Pinot Noir fora das fronteiras da Borgonha. Os seus vinhos da casta Chardonnay produzidos na região de Ardèche (desde 1979) e da casta Pinot Noir, produzidos nas colinas da Provence em Côteaux du Verdon (desde 1989) têm vindo a conquistar um crescente mercado.
Esta expansão foi complementada por aquisições estratégicas: em 2003, a Maison integrou a histórica casa Simonnet‑Febvre em Chablis, e em 2008 comprou a Henry Fessy, reforçando o portefólio no Beaujolais.
Em Ardèche prevalecem os solos de argila e calcário. Aqui, a Chardonnay é tratada exactamente da mesma forma como se tivesse sido cultivada numa das vinhas Grand Cru da Côte-d’Or. Apenas as melhores uvas são utilizadas, e a fermentação do mosto e envelhecimento dos vinhos são feitas em barricas de carvalho francês produzidas pela empresa. Além da Chardonnay, a Latour investiu também na casta Viognier, a partir da qual produz vinhos de monocasta e também em blend (com Chardonnay).
Já no Domaine de Valmoissine, em Var, na Provença, a Louis Latour cultivou Pinot Noir em vinhas situadas a quinhentos metros acima do nível do mar, junto a um antigo mosteiro. O seu clima é mediterrânico, os dias são amenos e as noites frias, condições mais que perfeitas para o crescimento e sobrevivência da casta.
Em 2010, a Louis Latour investiu noutro promissor e entusiasmante terroir para a produção de Pinot Noir. Trata-se da região de Pierres Dorées, localizada no sul de Beaujolais caracterizada por um clima continental ameno, solos de argila e pedra calcária, e suaves colinas onde hoje estão implantados mais de 20 hectares de vinha.
Este percurso fora dos limites tradicionais da Borgonha demonstra a visão pioneira e o espírito inovador da Maison Louis Latour. Combinando respeito pelas castas nobres, atenção ao terroir e domínio técnico, a casa soube transpor fronteiras geográficas sem nunca abdicar da sua identidade. E de representar o testemunho de uma marca que continua a reinventar-se, elevando a expressão do vinho francês para novos horizontes.

PROVA DE VINHOS
A distribuidora destes vinhos em Portugal é a Garcias. A prova realizou-se na adega mais antiga da Maison Louis Latour, situada em Aloxe-Corton e construída entre 1830 e 1834, um espaço impressionante onde podemos encontrar vinhos de colheitas antigas. A degustação incluiu várias referências com quase uma década de envelhecimento, permitindo uma perspectiva aprofundada sobre a capacidade de evolução dos vinhos da casa. Uma experiência rara e enriquecedora, mesmo sabendo que nem todas as colheitas provadas estarão disponíveis no mercado nacional.
BRANCOS
Louis Latour Grand Ardèche 2016
Um Chardonnay que alia acessibilidade e sofisticação. Mostra-se redondo, cremoso, com boa presença e um perfil muito equilibrado. Apesar dos anos, revela ainda fruta branca madura, como a ameixa, junta-se a notas de brioche e baunilha num conjunto onde a madeira surge bem integrada. PVP: 13 €
Louis Latour Chassagne-Montrachet Blanc 2017
Vinho sério, cheio de charme. Fundo amanteigado que lhe dá corpo e presença. A barrica aparece com elegância, bem fundida num branco cheio de textura e persistência.
Louis Latour Meursault 1er Cru Charmes 2016
Um Meursault cheio de caráter, onde notas cítricas e frutos secos se cruzam com apontamentos tostados. Fresco e salino, com aquela cremosidade tão típica da zona e um final longo e envolvente. Um vinho que pede tempo e comida.
Louis Latour Corton-Charlemagne Grand Cru 2016
Profundo e sofisticado, com aromas de laranja madura, avelã e baunilha. Na boca é volumoso, envolvente, com textura amanteigada, frescura e mineralidade. Um branco poderoso, de estrutura nobre, que se vai revelando em camadas. Final persistente e memorável.
TINTOS
Louis Latour Domaine Valmoissine Pinot Noir 2016
Fresco, leve e perfumado, com aromas a frutos silvestres combinados com algum fruto seco. Taninos finos, corpo médio e final limpo e especiado. Um Pinot Noir de altitude, bem feito, fácil de gostar e perfeito para todos os dias.
Louis Latour Beaune 1er Cru Vignes Franches 2016
Um vinho que conjuga elegância e complexidade. Notas de fruta e cacau já com alguma oxidação mas ainda a revelar muita juventude. Na boca é sedoso, harmonioso, com excelente equilíbrio entre estrutura e leveza. Muito bonito.
Louis Latour Aloxe-Corton 1er Cru Les Chaillots 2016
Fruta silvestre, cogumelos e um toque de especiarias marcam o perfil deste tinto que se mostra firme e fresco, com estrutura e profundidade. A madeira surge bem colocada, a dar suporte sem roubar o protagonismo. Um vinho com garra e elegância.
Louis Latour Château Corton Grancey Grand Cru 2015
Cheio de presença, revelou combinação de fruta preta, cacau, especiarias e uma ligeira nota terrosa e oxidativa. Na boca é amplo, com frescura, tensão e taninos bem moldados. Um blend de grandes parcelas, com tudo no sítio para crescer em garrafa, mas já com muita coisa boa para mostrar.
