Adega Mayor revela trabalho consistente

Há já uns bons anos que o empresário Rui Nabeiro decidiu investir num projecto relacionado com vinho, em nada comparado ao que fez durante a sua vida na área do café, mas sempre com a mesma atitude empreendedora que sempre o caracterizou. Parece ter sido ontem que lá fui cobrir a inauguração da adega (2007) desenhada pelo arquitecto Siza Vieira, a primeira de autor em Portugal. Passados estes anos, com o projecto de vinhos a funcionar a todo o vapor, a Adega Mayor decidiu mostrar o trabalho realizado ao longo dos últimos anos com uma vertical de vinhos de topo da marca Reserva do Comendador, que a partir de 2009 se passou a chamar Pai Chão. Reserva do Comendador 2003, 2005, 2007 e Pai Chão 2009, 2011, 2013 e 2014 foram os anos provados. A casta de base, Alicante Bouschet, sempre presente em maior percentagem neste vinho (de 60 a 80%, conforme as colheitas) , foi complementada nos primeiros anos com Trincadeira e Aragonês. Mais recentemente, a partir de 2011, optou-se pela utilização da Touriga Nacional, de forma a torná-lo mais sedoso mas nem por isso menos fresco. Uma espécie de rebeldia domada, um cunho pessoal dados pelos enólogos Rui Reguinga e Carlos Rodrigues, que entretanto vieram substituir no projecto Paulo Laureano e Rita Carvalho, respectivamente. Tal como no início, neste vinho são utlizadas barricas de carvalho francês novas, entre 18 a 24 meses (na sua maioria 24).
Apesar das mudanças, o vinho manteve ao longo dos anos um estilo reconhecível, na medida em que nunca deixou de ser um tinto complexo, denso, volumoso, com excelente acidez e madeira sempre muito bem integrada. Nos anos mais antigos, a sua evolução revelou aromas terciários que me deram muito prazer, e nos anos mais recentes, estiveram sempre presentes os frutos vermelhos, as notas de cacau e folha de tabaco, o lado balsâmico tão característico do Alicante Bouschet. A mudança mais recente para a Touriga como casta complementar só beneficia o consumidor, especialmente aquele que não quer ou não sabe esperar pelo vinho, mas pelo menos o saboreia com uma refeição à altura. Grandes vinhos, sim senhora.

