A revolução vitivinícola da Rothschild na China

A família Rothschild reforçou a sua presença no mercado asiático há dezassete anos com o Domaine de Long Dai, uma adega de inspiração bordalesa localizada em Shandong (Yantai), na China. Com três vinhos no portefólio e uma produção limitada, o projecto já se tornou num dos principais produtores de referência a nível internacional.
Em pleno Vale de Qiushan, na província de Shandong (Yantai), foi fundado um dos mais ambiciosos projectos vínicos do grupo Domaines Barons de Rothschild Lafite fora da França. A propriedade, situada no distrito de Penglai, em Yantai, foi idealizada em 2008, com as primeiras vinhas plantadas em 2011. O resultado deste investimento chegou ao mercado em 2019, com o lançamento do seu primeiro vinho premium: o Long Dai 2017.
O nome ‘Domaine de Long Dai’ (DLD) deve-se a uma combinação de simbolismo cultural e identidade territorial. ‘Long’, na sua versão complexa, significa ‘esculpido como uma tábua de jade’ e remete para um objeto tradicionalmente usado por agricultores para rezar por boas colheitas. E ‘Dai’ significa ‘montanha’ e homenageia a Taishan (também chamado Monte Tai), uma das cinco montanhas sagradas da China e um dos marcos históricos e espirituais mais importantes do país. O nome traduz assim o equilíbrio entre a natureza e o trabalho minucioso das equipas que procuram extrair o máximo potencial do terroir para a produção de vinho.
A adega adopta um estilo arquitetónico chinês contemporâneo, com alvenaria azul, telhados cinzentos e encaixes tradicionais que refletem a cultura local. A adega tem design octogonal inspirado em Lafite, com oito pilares vermelhos remetendo aos Oito Trigramas taoistas (os trigramas são símbolos formados por três linhas que representam forças naturais e a interação entre o yin e o yang no universo).
Gerida por Charles Treutenaere (Director Geral), a propriedade conta com a assistência de Zhang Peng (Diretor Técnico); Shao Li Ying (na Viticultura); e Liang Chen (Mestre de adega). Olivier Trégoat, reconhecido enólogo de Bordéus e também Diretor Técnico do Château L’Évangile, Château Paradis-Casseuil, Rieussec e Domaine d’Aussières, assegura a supervisão da equipa.
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A adega integra hoje o restrito grupo de oito propriedades internacionais da família Rothschild, e é considerada uma aposta estratégica no desenvolvimento da viticultura de qualidade na China. Localizada a cerca de 37,5° de latitude norte, a vinha beneficia de um clima temperado costeiro, um subsolo granítico e mineral levemente ácido e solos arenosos, argilo-arenosos e argilo-siltosos, características que contribuem para o perfil distinto e elegante dos vinhos ali produzidos. O clima temperado da região, com uma estação final prolongada, favorece a maturação plena das uvas.
O projecto ocupa mais de 40 hectares distribuídos por quase 600 socalcos, respeitando a tradição agrícola local e a estrutura natural do terreno; e foi desenvolvido em estreita colaboração com os agricultores da aldeia de Mulangou, que contribuíram para complementar a experiência das equipas da Domaine Barons de Rothschild Lafite.
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Esta disposição em terraços obriga a uma viticultura de alta precisão, com maior recurso a trabalho manual e maquinaria adaptados às características de cada talhão, com o intuito de produzir um vinho de classe mundial.
O Long Dai 2017, que como já mencionado foi o primeiro rótulo da casa a ser lançado, é um blend refinado de Cabernet Sauvignon, Marselan e Cabernet Franc. A produção inicial foi limitada a 2.500 caixas, destinadas sobretudo ao mercado chinês, através da parceria com a distribuidora Pernod Ricard, embora a internacionalização do vinho esteja nos planos desde 2020.
Nas vinhas, destacam-se as castas 39% de Cabernet Sauvignon (39%), que é a casta emblemática do grupo, acompanhada pela Marselan (27%), Cabernet Franc (19%) e Merlot (9%). As restantes castas, complementares, incluem a Petit Verdot, Alicante Bouschet e Syrah, permitindo uma diversidade de expressões enológicas e um leque de possibilidades para blends futuros.
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Vinhos e Enoturismo
Até hoje, o DLD produz apenas três vinhos, dois tintos e um rosé: o mais destacado é o Long Dai (o primeiro a ser lançado), seguido do Hu Yue e, finalmente, de um rosé exclusivo, Xiao Mu Lan, este último disponível apenas na propriedade. Esta produção limitada pode parecer modesta, mas é intencional e estratégica. Inspirado no modelo clássico de Bordeaux, o projecto privilegia a excelência e a consistência, apostando num portefólio reduzido mas altamente qualificado, que reflecte com precisão o terroir chinês sob o olhar exigente de Lafite.
Estes vinhos foram criados sobretudo para servir o mercado chinês, com mais de 90% da produção destinada a consumidores locais de elevado poder aquisitivo. O projecto ambiciona não só oferecer vinhos de qualidade premium à elite chinesa, mas também educar e desenvolver o mercado interno do país. Embora o foco principal seja a China, há planos para expandir a presença do Domaine em comunidades chinesas no estrangeiro, como em Vancouver e Sydney, reforçando assim a ligação entre a produção local e a diáspora chinesa. E cativar apreciadores que vinho que gostam de provar clássicos de outras paragens. A iniciativa representa um marco na aposta da China na vitivinicultura de luxo, impulsionada por parcerias internacionais de prestígio.
No campo do enoturismo, o DLD oferece uma experiência de enoturismo exclusiva mediante reserva prévia, e com grupos pequenos. A visita inclui um percurso pelas vinhas e pela adega onde se inclui uma apresentação detalhada do terroir e da história do Domaine, seguida por uma prova dos três vinhos emblemáticos da propriedade. Os visitantes também podem conhecer a sala de cubas em inox e o Grande Salão, onde são apresentadas harmonizações com a gastronomia local. A complementar, exposições de arte e fotografia fazem parte do percurso pelos corredores da adega. O atendimento é feito em mandarim, francês e inglês, e as visitas funcionam diariamente, excepto em feriados especiais.
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