A Essência do momento

Em entrevista ao mariajoaodealmeida.com, o enólogo José Manuel Soares fala sobre a mais recente novidade da Quinta de Ventozelo (grupo GranVinhos): o Essência Branco, um topo de gama da colheita de 2019 que vem complementar a gama ‘Essência’, até agora composta exclusivamente por um tinto.
Esta nova referência surge numa edição muito limitada de apenas três mil garrafas, onde se destacam as castas autóctones do Douro – Viosinho (70%) e Malvasia Fina (30%) – provenientes de vinhas com vinte anos, plantadas em zonas altas da quinta onde encontram condições ideais de maturação. Após várias experiências levadas a cabo ao longo de vários anos, José Manuel Soares percebeu que tinha finalmente conseguido reunir as barricas necessárias para fazer um vinho especial.
O vinho fermentou e estagiou durante oito meses em barricas de carvalho francês de 300 litros (segundo e terceiro uso), das tanoarias Baron, Radoux e Seguin Moreau. Seguiu-se um período de cinco anos de envelhecimento em garrafa até ao seu lançamento. No aroma, o Essência branco conjuga fruta citrina com toques de resina e fumo, além de notas de especiaria e madeira. Na boca revela-se com boa estrutura e frescura, textura aveludada e um final persistente, características que sublinham a ambição deste branco singular no portefólio da marca.

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Maria João de Almeida (MJA) – Este vinho é uma novidade de Ventozelo, como surgiu a ideia de o criar?
José Manuel Soares (JS) – O Essência é um novo lançamento mas, na verdade, já tem seis anos dentro da empresa. Nós já fazíamos o nosso branco de Ventozelo, um vinho fermentado em barrica, mas em 2019, identificámos cerca de dez barricas que se destacavam das demais – algumas de Malvasia, outras de Viosinho – e percebemos que podíamos criar algo especial. Acabámos por engarrafar o vinho sem ainda ter um nome ou uma definição clara do que ele se tornaria. Acompanhámos a sua evolução em garrafa desde 2020 até agora e, a cada ano, notávamos melhorias significativas. Já era um vinho muito bom, mas continuava a evoluir de forma surpreendente.
MJA – Mas tinham de o lançar, obviamente… acharam que ele já tinha atingido o ponto certo?
JMS – Sim, no final do ano passado decidimos lançá-lo, achámos que estava num momento ótimo após cinco anos em garrafa. O vinho combina perfeitamente as características das castas com as notas provenientes do estágio em barrica: aromas fumados, resinosos e de frutos secos. Essa complexidade, aliada à frescura, torna-o num vinho fora do vulgar. Foi isso que nos levou a baptizá-lo de Essência: um vinho que representa o melhor que a quinta pode produzir em termos de brancos.
MJA – Existe alguma particularidade nas vinhas de onde ele vem?
JMS – Sim. Apenas cerca de um sétimo da nossa área de vinha é dedicada a castas brancas. Estas vinhas estão situadas na zona mais alta e virada a norte da Quinta de Ventozelo, o que lhes permite manter uma frescura essencial para a produção de vinhos brancos de qualidade. Embora o Douro seja uma região quente, estas vinhas estão em áreas mais resguardadas, o que nos permite obter brancos de grande nível. O acompanhamento rigoroso da maturação das uvas é fundamental, especialmente no caso da Malvasia Fina, que evolui muito rapidamente. Assim, conseguimos produzir vinhos brancos de excelência, mesmo numa zona predominantemente de tintos.
MJA – O seu posicionamento é um topo de gama?
JMS – Sem dúvida. Para nós, o Essência representa o melhor vinho branco que conseguimos produzir. Em termos de preço (PVP 38,5€), o Essência branco e tinto estão entre os vinhos mais caros da Quinta de Ventozelo, no entanto, não é um vinho extraordinariamente caro. A nossa ideia sempre foi manter os vinhos acessíveis, dentro da qualidade que eles oferecem. Não pretendemos fazer os preços astronómicos que às vezes aparecem no mercado, essa não é a nossa filosofia!
MJA – Sendo um topo de gama, será lançado apenas nos melhores anos?
JMS – Este Essência é de 2019 e, como surgiu por acaso e não sabíamos o que ia dar, não produzimos nos anos seguintes… Mas estamos esperançosos que o vinho actualmente em estágio nas barricas nos dê a possibilidade de lançar a colheita de 2024. Resumindo, é um vinho que não é feito todos os anos, mas apenas quando a qualidade for excecional.
MJA – Os brancos portugueses estão cada vez melhores, mesmo no Douro que tradicionalmente sempre foi uma região de generosos e tintos. Tencionam aumentar a oferta de brancos no futuro?
JMS – Temos mais tintos do que brancos porque a Quinta de Ventozelo tem uma área maior dedicada a vinhos tintos. No total, a quinta possui 200 hectares, dos quais cerca de 10% são de castas brancas.
Mas, apesar de predominarem os tintos, produzimos vinhos brancos de alta qualidade. Já temos quatro castas brancas vinificadas separadamente em monocasta, e também o branco de Ventozelo, que é uma referência que também gostamos muito. O Essência é uma continuidade dessa linha de brancos, mas com uma proposta mais sofisticada. Acho que será sempre esta a nossa filosofia…
MJA – Ou seja, podem aumentar o portfolio nos brancos, mas sempre investindo num patamar de qualidade…
JMS – Sim, e já estamos a explorar novas castas. Este ano, fizemos o Gouveio pela primeira vez, uma casta plantada há cinco anos na quinta. A qualidade já está boa o suficiente para vinificá-la em formato monocasta. Ainda temos algumas castas em mente que ainda não lançámos. A Fernão Pires, por exemplo, nunca alcançou a qualidade que queríamos, e a Códega de Larinho, que temos em pequena parcela, mas que pode ainda vir a surpreender-nos no futuro…
MJA – Tendo em conta que os tintos estão em maioria, como estão a trabalhar?
JMS – Em relação aos vinhos tintos, trabalhamos com sete variedades: Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Amarela, Sousão, Tinta Barroca e, mais recentemente, o Tinto Cão. Produzimos essas castas separadamente, e nem todos os anos as fazemos todas. Destaco o trabalho que temos feito com a Tinta Amarela, uma casta menos comum no douro mas que tem feito parte de vinhos muito interessantes. Além destes, temos também outros dois tintos, um Reserva e o Azul de Ventozelo, que são vinhos mais acessíveis dentro do nosso portfólio. E o Essência Tinto, que é o ‘irmão’ deste branco lançado agora. Fora os tintos, trabalhamos com Portos desde 2014 e lançámos recentemente um Porto Tawny de 2014. Sem falar do gin e do azeite …Temos realmente uma boa oferta!
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