Três brancos com carácter
A completar 15 anos de existência, a Adega Mãe apresentou três vinhos que reflectem o amadurecimento técnico da equipa, a força do terroir atlântico e a ambição crescente do projeto criado pelo Grupo Riberalves em homenagem à matriarca da família, Manuela Alves. A apresentação teve lugar no restaurante Kabuki, em Lisboa, detentor de uma estrela Michelin.
A Adega Mãe, inaugurada em 2011 na Quinta da Archeira, Ventosa, em Torres Vedras, nasceu do desejo de homenagear a matriarca da família Alves (Manuela) e de criar um projeto vínico que unisse afecto, memória e qualidade. A arquitectura contemporânea, integrada na paisagem, tornou a adega num marco enoturístico, mas foi a evolução técnica, sobretudo nos brancos, que reforçou o seu estatuto. Tal como recorda o enólogo Diogo Lopes (na foto de entrada à esq., ao lado do produtor Bernardo Alves), «a primeira vindima na Adega Mãe foram só tintos, mas rapidamente percebeu-se o potencial que os brancos tinham». Assim, a partir de 2015, a equipa começou a «maximizar a influência atlântica e o trabalho das castas portuguesas neste terroir de influência marítima», tornando o projeto mais visível e reconhecido. Foi também nesse ano que plantaram o Gouveio, casta que agora ganha mais protagonismo com o lançamento do monocasta Adega Mãe Gouveio 2024. Com pouco mais de 3.000 garrafas produzidas, o vinho revela notas meladas, alguma cera de abelha e grande volume de boca. «Este vinho tem surgido sempre em lotes genéricos mas agora ganha outro destaque enquanto monocasta», revela Diogo Lopes. «Até agora a casta Viosinho e a Arinto sempre brilharam nos nossos vinhos mas agora também queremos que o Gouveio se destaque neste terroir atlântico, queremos que ganhe outra dimensão, até porque é uma variedade cada vez mais pedida não só a nível nacional como pela exportação», remata.
Outro vinho apresentado no Kabuki foi o Adega Mãe Terroir 2018, um branco de produção muito limitada (apenas 2.196 garrafas) elaborado a partir de uvas das vinhas da Ventosa. Vinificado já com uvas desengaçadas, com prensagem suave, decantação a frio e fermentação em barricas de carvalho francês de 400 litros, estagiou depois 12 meses nas mesmas barricas, com bâtonnage. No copo, revela complexidade única, untuosidade, cor mais carregada, salinidade, acidez viva e terciários muito bonitos, terminando com aquele sabor amargo, como que um prolongamento da acidez, num conjunto de força, estrutura e elegância.

A terceira novidade revelada foi o Branco Especial, resultado de um lote singular de colheitas de 2017, 2019, 2022 e 2021. Vinificado com uvas desengaçadas, prensagem suave, decantação a frio e fermentação em barricas de 400 L, na sua maioria novas, e estágio prolongado sobre borras totais, sendo engarrafado no final de 2022. Diogo Lopes explica: «Temos aprendido muito com a vinificação das castas, principalmente a partir de 2015. Inspirei-me em alguns clássicos portugueses de brancos mais estruturados, e é neste caso que valorizamos não só o terroir, mas também o trabalho do homem, porque é um exercício de adega muito enriquecedor».
A proximidade ao mar sempre foi determinante na identidade dos vinhos da Adega Mãe. Com vinhas distribuídas entre zonas mais próximas do Atlântico, ideais para brancos, e áreas interiores para tintos, a Adega Mãe beneficia de um terroir que dá frescura, mineralidade e uma salinidade muito própria aos vinhos. A estratégia comercial mantém o foco em garrafeiras e restaurantes de grande qualidade, e os vinhos apresentados harmonizaram com a gastronomia do Kabuki, num serviço exemplarmente conduzido pelo director do restaurante, Victor Jardim.